Resumos/AbstractsEMEP

Sessão 1

Proposta de curso de cultura brasileira no ensino universitário de PLE na Hungria

Luma Miranda

Universidade Eötvös Loránd, Hungria

 

Este trabalho tem por objetivo apresentar um relato de experiência sobre a elaboração de um curso sobre cultura brasileira para alunos húngaros de graduação em Português na Universidade Eötvös Loránd, sediada em Budapeste, capital da Hungria. Na grade curricular, são oferecidas aos estudantes disciplinas de língua, linguística, literatura e cultura. Dessa forma, foi elaborada uma proposta de curso de cultura brasileira que se aproxime da grade curricular da universidade e que forme profissionais com conhecimento aprofundado sobre a cultura do Brasil. Para alcançar o objetivo do curso, foram selecionados textos de diversos gêneros discursivos (Bakhtin, 2016) como capítulo de livro e canção da música popular brasileira. O curso teve início com uma exposição sobre o conceito de cultura (Laraia, 2000; Santos, 1996); em seguida, passou-se para uma revisão da história do Brasil, desde a colonização até os dias atuais, enfocando, sobretudo, movimentos minoritários e de resistência; e, por fim, discutiu-se o tema da formação da identidade nacional brasileira (Ortiz, 1985; Ribeiro, 1995) com destaque para a questão da miscigenação (Freyre, 2006 [1933]; Holanda, 2006). Em suma, este curso apresentou vários aspectos da cultura brasileira a partir da seleção de textos feita pela professora e das discussões em sala de aula, no intuito de contribuir para a formação cultural dos aprendizes húngaros de PLE.

 

O paradoxo do ensino do português no Senegal: entre exclusão e tentativas de inclusão

Mahamadou Diakhité

Universidade Cheikh Anta Diop de Dacar, Senegal


Actualmente, o português, enquanto língua veicular, é a terceira língua europeia falada no mundo, a primeira do hemisfério sul do planeta e a quinta da rede Internet, em termos de importância numérica, segundo alguns especialistas. No entanto, o seu ensino é objecto de um paradoxo impressionante no meio francófono do mundo, oscilando entre a exclusão e as tentativas de inclusão, onde a sua importância é diminuída face a políticas linguísticas pouco preocupadas com a equidade. Será que o ensino do português no Senegal saberá derrogar esta regra implacável própria de muitos sistemas educativos? É a esta pergunta que tentaremos dar respostas neste contributo. Assim, estudaremos, à primeira vista, um breve resumo dos conteúdos pedagógicos, programáticos e das políticas educativas sobre a questão, num segundo lugar, o papel da diplomacia e das relações internacionais e, por fim, num terceiro e último recurso, uma análise das respostas estratégicas propostas para uma inserção socioprofissional bem sucedida dos alunos do português no Senegal actual.

Ler e escrever na universidade: experiência do Laboratório Reescrit@

Sebastião Silva Soares

Universidade Federal do Tocantins, Brasil

 

Este trabalho visa apresentar os dados produzidos no projeto Laboratório Reescrit@ promovido no curso de Educação do Campo da Universidade Federal do Tocantins – Câmpus Arraias a partir do edital do Programa de Inovação Pedagógica da Universidade Federal do Tocantins (PIIP/UFT/2022). As ações foram construídas a partir de atividades de monitorias, palestras, oficinas temáticas e clube de leitura, cujo propósito foi promover as práticas de letramento acadêmico, em particular com o uso de tecnologias digitais de aprendizagem, como, por exemplo, Google Classrrom, Google Docs, WhatsApp e Google Meet. Os dados obtidos por meio das experiências do laboratório, sinalizam sobre a importância do engajamento de professores e instituição no fomento de novas políticas linguísticas na universidade, principalmente com os alunos calouros, que vivenciam um “choque de realidade” entre os percursos da leitura e escrita escolar em comparação às exigências da leitura e escrita no ensino superior. As ações empreendidas no intervalo de execução do projeto fortaleceram a inovação pedagógica nas práticas docentes, bem como os processos e ritmos de socialização na universidade no contexto de pandemia, principalmente pela valorização de trabalhos de leitura e escrita colaborativa mediadas pelas tecnologias, frente às demandas da vida universitária, tanto para os alunos quanto para os professores que foram envolvidos nas ações.

Sessão 2

A configuração da disciplina de metodologia do ensino de língua portuguesa em cursos de graduação em pedagogia: uma análise dos objetos de Ensino

Dalila Gonçalves Luiz

Secretaria de Educação de São Paulo, Brasil

 

O objetivo deste trabalho é analisar os objetos de ensino que compõe a disciplina de Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa (ou similar) ministrada nos cursos de Graduação em Pedagogia de  três instituições públicas de ensino de São Paulo. Reconhecendo a existência de diversas pesquisas que contemplam as especificidades em torno da disciplina no âmbito do curso de graduação em Letras, é possível notar menor quantidade de pesquisas quando se trata da oferta desta disciplina no curso de graduação em Pedagogia. Buscando somar-se às pesquisas já desenvolvidas, este trabalho propõe as seguintes perguntas: a) Quais são os objetos de ensino que constituem a disciplina de Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa (ou similar) ministrada nos cursos de graduação em Pedagogia de diferentes instituições de Ensino Superior? b) Quais fatores influenciam nas escolhas dos objetos de ensino que compõe a mencionada disciplina? Para constituir o corpus de análise adotamos a pesquisa documental, recorrendo a três instrumentos de coletas de dados: o Plano Pedagógico da instituição de Ensino Superior, o plano de trabalho da disciplina de MELP desenvolvido pelo professor responsável pela disciplina no semestre vigente; a realização de uma entrevista com o professor responsável pela disciplina. Os dados estão na fase inicial de coleta. Este trabalho tem como escopo teórico o conceito de ‘Disciplina’ desenvolvido por Foucault (1999) e a perspectiva discursiva de linguagem Bakhtin (1997).

 

O Ensino de Português como Língua Estrangeira: concepção e desenvolvimento de currículo

Mariana Furst

Capacite, Brasil

 

O Brasil, na condição de maior país de língua portuguesa e com maior contingente de falantes nativos precisa se conscientizar da responsabilidade que possui pelo desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem da língua portuguesa numa circulação global. O presente estudo pretende refletir sobre os desafios do ensino de Português como Língua Estrangeira, PLE, como por exemplo, na ausência de uma política pública brasileira explícita para o ensino de PLE. Ao abordar o ensino da língua vamos analisar a prática profissional observando as 4 fases nela envolvidas: o planejamento curricular, a produção de materiais, o ensino propriamente dito, e a avaliação de rendimento e proficiência da língua. Dessa forma, o objetivo do presente estudo é a facilitação da compreensão do processo de ensino-aprendizagem de PLE, levando em consideração o fato de que trabalhar para desenvolver capacidades da linguagem significa contribuir para o sucesso da escolarização.  Após vasta análise, nosso estudo constatou que grande parte do que tem sido feito no Brasil em favor do fortalecimento do ensino e da oferta do PLE emana de iniciativas das universidades, ou de iniciativas privadas como é o caso da Capacite, e em menor escala da iniciativa governamental.

 

Divulgação científica, redes sociais e ensino de português: contribuições da análise diálogico-comparativa de discursos

Urbano Cavalcante Filho

Instituto Federal da Bahia / Universidade Estadual de Santa Cruz / Universidade de São Paulo, Brasil

 

Com o advento da internet, as redes sociais desempenharam importante papel social, político, histórico e cultural na popularização do conhecimento, servindo como ambiente de propagação de discursos negacionistas e fake news. Defendemos ser papel da escola, para além do ensino do funcionamento da língua, debater a atuação do sujeito e seus discursos no processo de leitura e produção de textos. Considerando o contexto contemporâneo de extrema desvalorização da ciência e ataque ao fazer científico,  o trabalho com os textos de divulgação científica (DC) nas aulas de português é uma oportunidade de formação de sujeitos leitores e escritores com espírito crítico e reflexivo. Assim, nosso objetivo é apresentar um trabalho com o ensino de português, a partir do estudo de gêneros da DC nas redes sociais (Facebook, Twitter e Instagram), plataformas onde a maioria de nossos estudantes interagem  por meio dos seus aparelhos eletrônicos. Nosso intuito é trabalhar o fenômeno da DC (que se realiza pelo uso da palavra, do texto e do discurso em diferentes semioses), sob a perspectiva do gênero, da autoria e da heterodiscursividade, a partir do aparato teórico-metodológico da análise dialógico-comparativa de discursos. Ao compararmos a atuação linguístico-discursiva de sujeitos nas redes, oportunizamos uma educação que incentive o uso consciente e “responsível” da palavra nas redes, comprometida com a verdade e com a responsabilidade na exposição de ideias, no consumo de informações.

Sessão 3

(Inter)cultura e língua: abordagem contrastiva de expressões idiomáticas na aula de português para alunos hispanofalantes

Maíra Mendes Magela

Universidad Peruana de Ciencias Aplicadas / Universidad Femenina del Sagrado Corazón/ Pontificia Universidad Católica del Perú, Peru

 

Ao considerar que é impossível dissociar língua de cultura, a aprendizagem de uma nova língua prevê um ensino intercultural. Abordar os aspectos da competência intercultural na aula de PLE pode contribuir para o aprendiz inserir-se na cultura da língua-alvo, despertando os princípios de respeito e criticidade (Salomão, 2015).  Assim, este trabalho propõe uma abordagem contrastiva das expressões idiomáticas (EI's) na aula de português para hispanofalantes, ressaltando tal espaço como propício à discussão de interculturalidade; do ponto de vista comunicativo, a proximidade de certas línguas facilita a intercompreensão. Em relação ao português e espanhol reconhece-se que a aprendizagem do aluno hispanofalante é facilitada, principalmente em relação a alguns fenômenos linguísticos, tais como metáfora e metonímia, as quais, segundo Lakoff e Johnson (1999), estão em nosso entorno contextual e cultural. Como metodologia, analisamos as EI's presentes nos materiais didáticos utilizados nas instituições de ensino de Lima, no Peru; a fim de contrastar os significados e as motivações que subjazem a formação linguística das EI's. Concluimos que, devido à proximidade entre o português e o espanhol, podemos encontrar correspondências entre as EI's, já que muitas são motivadas por experiências universais e, quanto àquelas que se distinguem, essas implicam compreender contextos culturais específicos de cada língua.


As contribuições do debate para o desenvolvimento das habilidades orais no ensino de língua adicional

Denise Queiroz Novaes

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Brasil

 

Ensinar habilidades orais de um idioma para um estudante não nativo implica criar um ambiente de aprendizado de audição e fala. Como professores de língua adicional, buscamos estratégias de ensino que propiciem situações dinâmicas e estimulantes para criar condições reais para o desenvolvimento da oralidade. Segundo Rio (2019), as dificuldades de aprendizagem relacionam-se à ansiedade dos estudantes cometerem erros ao comunicarem oralmente. O objetivo é refletir sobre propostas para o ensino de habilidades orais. Harmer (2001) sugere debates formais como uma potente estratégia didática. Estimular os aprendizes a se manifestarem a favor/contra, numa missão de equipe, pode provocar um sentimento de pertença e contribuir para aumentar a confiança do aluno no processo de aquisição. Pode ser oportuno para escuta e produção oral com a troca de ideias, durante a construção da rede argumentativa. Destaca, ainda, a importância do ensino da pronúncia, com ênfase no desenvolvimento de atividades nas quais o efeito comunicativo da pronúncia seja observado. Cada equipe tem seu tempo de fala, e a outra equipe terá seu tempo de escuta e observação também da pronúncia em relação à compreensão. Thornbury (2005) ressalta que debate envolve saberes socioculturais relacionados à oralidade, às normas e comportamentos nas relações face a face, como o respeito ao pensamento do outro, o tempo de fala bem como o acordo entre as partes, mantendo a discussão no campo das ideias e não no pessoal.

 

Então em produções orais de aprendentes de PLNM – algumas considerações

Telma Elisabete de Oliveira Duarte

Universidade do Porto / Universidade de Coimbra, Portugal / Universidad de Salamanca, Espanha

 

Apesar do considerável crescimento que o estudo dos marcadores discursivos tem conhecido nas últimas décadas, poucos são os trabalhos que se centram na aprendizagem destas partículas por estudantes de português como língua não materna.
Este trabalho investiga, assim, o uso de então, um marcador conversacional (MC) bastante frequente na interação oral do português europeu (Lopes, 1997), num corpus de aprendentes de PLNM em contexto de imersão em Portugal, o COral-Co. Recorrendo a uma metodologia essencialmente quantitativa, pretende-se comprovar o uso de então neste corpus e detetar eventuais padrões de uso, tendo em conta a língua materna (LM) e o nível de proficiência dos informantes.
Assim, encontramos, no corpus, 288 ocorrências de então, o qual é utilizado por 67 dos 128 informantes que o compõem. Das 16 LM dos aprendentes que usam então, a partícula sobressai nas produções de hispanofalantes. A estes seguem-se os falantes de italiano e, com muito menor expressão, informantes com outras LM, como o francês e o inglês. Relativamente ao nível de proficiência, verificamos que surge mais em produções de nível B2 e B1.
Os resultados parecem, pois, confirmar a produtividade da transferência positiva, constatada em trabalhos realizados previamente no âmbito da aprendizagem de outras línguas estrangeiras (La Rocca, 2017; Oliveira, 2014), como um dos fatores que pode, em conjunto com o contexto de imersão, favorecer a aquisição dos MC, especialmente no caso de línguas afins.

Sessão 4

O ensino de português no programa leitorado: recursos para a comunidade de ensino de pla

Ana Flávia Boeing Marcelino

The University of Chicago, EUA

 

Este trabalho tem como objetivo apresentar um mapeamento de projetos e materiais disponíveis online e gratuitamente, produzidos no âmbito do Programa Leitorado do Instituto Guimarães Rosa, que podem ser recursos valiosos para a comunidade de ensino de Português como Língua Adicional. Para tanto, também apresentaremos um panorama histórico do Programa Leitorado, junto de seus objetivos para a expansão do ensino de português, cultura e literatura brasileiras. Desde 1953, o programa financia a atuação de professores de português, os leitores, em diversas universidades no mundo todo. Desse modo, destaca-se o papel dos leitores junto a um esforço coletivo no sentido de promover maior protagonismo no mundo lusófono de diferentes países e/ou comunidades de língua oficial portuguesa, como é o caso dos PALOP, buscando promover um ensino para a cidadania global, onde falantes interculturais, tanto estudantes quanto professores de PLA, medeiem entre diferentes culturas e perspectivas (Hua, 2014). A rede de leitores se caracteriza, portanto, como uma rede de criação de materiais e recursos, mas principalmente de conexão entre contextos de ensino diversos, expandindo o eixo Brasil-Portugal para promover o caráter pluricêntrico do ensino de português. Entre os materiais mapeados para esta pesquisa, estão o Glossário da Literatura Brasileira, produzido por iniciativa de Pilati e Pessôa (2022), e o Podcast Palavras do Brasil, produzido por Almeida (2021).

 

 

Expandindo nossos horizontes: leitorado guimarães rosa da teoria à prática

Ana Maria Lima

The University of Chicago, EUA

 

As dificuldades de se contratar professores de Português em universidades são imensas por nossos números de alunos não justificarem a despesa, no entanto, para oferecer um programa de qualidade é necessário termos profissionais competentes. Uma resposta, fornecida pelo Itamaraty, é o estabelecimento de leitorados. As perguntas que surgem são muitas: quais são as vantagens de se receber um leitor/a? Como é o processo burocrático e de seleção? Qual é o papel do Consulado? Quais são as contrapartidas da instituição que recebe o/a profissional de ensino? Finalmente, o que um leitor/a faz, em termos concretos? Receber um leitor/a pode trazer benefícios imensos para todas as partes. Os leitores oferecem grande ajuda a programas de Português divulgando cursos, oferecendo atividades e workshops, e dando aulas para diversificar o quadro de ofertas. Os leitores, como parte de um grupo selecionado e espalhado pelo mundo inteiro, trazem para a sala de aula experiências culturais ricas e, por outro lado, os leitores se beneficiam da oportunidade de viver e trabalhar no estrangeiro. Da teoria à prática, esta apresentação descreverá o processo de estabelecimento de um leitorado em uma instituição de nível superior. A segunda parte, dedicada ao trabalho concreto e experiência pessoal de uma leitora em Chicago, mostrará como nossos alunos e nossos professores de língua e literatura lucram com o estabelecimento da posição de apoio para divulgar as culturas lusófonas e a língua portuguesa.

 

Avaliação de proficiência: CILP para adolescentes

Simone Viapiana

Sabrina Bonqueves Fadanelli 

Universidade de Caxias do Sul, Brasil

 

No contexto de globalização em que vivemos, o domínio de línguas estrangeiras tem sido cada vez mais valorizado, em todos os âmbitos. Grande parte das instituições de ensino buscam, cada vez mais, desenvolver a habilidade de aprendizagem de línguas em seus estudantes. Percebe-se um aumento no número de adolescentes que buscam aprender uma nova língua, tanto em suas instituições de ensino quanto em centros de idiomas e/ou por meio das tecnologias digitais. Caminhando nessa mesma direção, a aprendizagem do português como língua estrangeira também tem aumentado e, com ela, a necessidade de uma certificação que comprove a proficiência. Assim,, a Universidade de Caxias do Sul desenvolveu o Certificado Internacional de Língua Portuguesa - CILP para adolescentes (de 11 a 17 anos). Por meio dele, os candidatos podem acreditar sua competência linguística nos níveis A2 e B1 do QCER. O diferencial dessa certificação encontra-se no fato de que para a sua elaboração consideram-se temas e situações adaptados aos conhecimentos e interesses do público dessa idade, sem deixar, no entanto, de considerar as habilidades de cada nível descritas pelo QCER.

Sessão 5

Gênero digital e cultura digital: uma análise de materiais didáticos para o ensino de Português como Língua Estrangeira-PLE

Anair Valenia

Universidade Federal de Catalão, Brasil

 

O contexto de globalização que permeia a sociedade na atualidade nos faz refletir acerca das fronteiras culturais tênues nas quais estamos imersos. Essa fluidez fronteiriça é comumente reiterada quando observamos que a língua portuguesa vem ganhando cada vez mais espaço no cenário internacional. Além disso, há um crescente avanço das Novas Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação-NTDICs que estão presentes nas práticas sociais dos sujeitos. Partindo desses aspectos, temos como objetivo discutir os resultados de uma investigação acerca de materiais didáticos para o ensino Português como Língua Estrangeira-PLE, observando se eles trazem os gêneros discursivos digitais, bem como aspectos da cultura digital, em sua estrutura composicional e conteúdo temático. Para cumprir os nossos objetivos, discutiremos algumas idiossincrasias sobre o ensino de Português como Língua Estrangeira-PLE com base em Mendes (2016), Almeida Filho (2005), Ortiz (2002). Para falar especificadamente sobre questões culturais, nos apoiaremos em Jenkins (2009), Bhabha (2013), Cuche (1999), Tylor (1920). Para discutir aspectos sobre decolonialidade, o percurso teórico que selecionamos foi por meio dos seguintes autores: Fanon (1961/2021), Mbembe (2020), Mignolo (2020), Sousa Santos (2018), Quijano (2005). Acreditamos que investigações nesse âmbito são relevantes no atual contexto globalizado, pois nos conduzem a olhar o ensino de língua como um espaço de inclusões cultural, social e acadêmica.

 

Perspectivas do ensino de Língua Portuguesa: o projeto interdisciplinar

Ana Elvira Luciano Gebara

Universidade Cidade de São Paulo, Brasil

 

Uma das estratégias metodológicas adotadas na educação básica é a dos projetos (JOLIBERT, SRAIKI, 2008; LERNER, 2002; MICOTTI, 2009;  BENDER, 2014). Desde projetos disciplinares passando por integradores aos interdisciplinares, tem-se o desenvolvimento da formação de alunos e a formação continuada dos docentes. Em nosso curso, os vários tipos de projetos constituem-se como caminhos para a formação e atualização do corpo docente privilegiando o protagonismo dos discentes em habilidades relacionadas aos estudos de língua materna e literatura (COSSON, 2006). O projeto desta apresentação “Ler e escrever o mundo: o centenário da semana de arte moderna – repercussões” foi implementado no 1. semestre de 2022. Os objetivos eram 1) desenvolver leitura e curadoria de informação bem como a escrita sobre tema escolhido. Cada grupo produziu infográfico ou podcast ou ainda jornal de uma página. Participaram as disciplinas “Práticas de Leitura e Escrita” e “Teoria da Literatura” acompanhando o desenvolvimento do trabalho no padlet. Os resultados mostraram que acompanhar o processo em entregas parciais permitiu um desempenho mais seguro e produtivo. Indicaram ainda que a criação de um produto promove um compartilhamento da avaliação em duas frentes: a do próprio grupo e a das docentes. Como se trata de metodologia empregada a cada semestre (desde 2014) com diferentes objetivos e temas, já é possível observar que é uma prática de ensino desafiadora abrindo espaço para reinvenções.

 

Especificidades linguísticas de textos de propaganda de sequência injuntiva

Maria Elias Soares

Universidade Federal do Ceará, Brasil

 

Neste trabalho, objetivamos analisar a sequência injuntiva, visando discutir práticas pedagógicas, para o ensino-aprendizagem das especificidades textuais que lhe são inerentes, uma vez que os diferentes gêneros planificados pela referida sequência (textos de propaganda, anúncios, manuais de instrução, regras de jogo, receitas, canções, orações, poemas etc.) estão presentes nas mais variadas situações comunicativas, vivenciadas pelos usuários da língua. Para tanto, relatamos uma pesquisa qualitativa, guiada metodologicamente pelo modelo de sequência didática de Dolz, Noverraz e Scheneuwly (2004), tendo como corpus vinte e quatro textos de propaganda, produzidos por alunos do 9º ano, do Ensino Fundamental de uma escola pública de Fortaleza, Ceará, Brasil. Os resultados permitem concluir que, quando o docente desenvolve um trabalho, em sala de aula, na perspectiva do uso efetivo da língua, oportuniza uma aprendizagem mais efetiva e melhora a capacidade dos alunos de produzir textos planificados pela sequência injuntiva. A pesquisa baseia-se teoricamente na Linguística de Texto, adotando a abordagem de sequência textual injuntiva de Travaglia (1991) e Bronckart (2009). A metodologia guia-se pelo modelo de sequência didática de Dolz, Noverraz e Scheneuwly (2004), para a análise dos dados.

O Método Lumen

Maria Vilela

Independent Scholar, EUA

Daniela Souza

Hudson Public Schools (MA) , EUA

 

A pandemia vivenciada no ano de 2020 aflorou as questões emocionais de adultos e crianças e, consequentemente, trouxe desafios e aprendizados. Deste modo, a psicóloga Maria Vilela George (CRP 06/43001) desenvolveu o Método Lumen. Este método foi desenvolvido para que alunos e professores pudessem reconhecer e expressar suas emoções de forma mais assertiva.
O método Lumen foi aplicado na escola Montes de Alvor na cidade de Portimão, em Portugal em 2022. Participaram quarenta e um alunos e dois professores do 2º e 3º ano da escola. O foco do trabalho incidiu na leitura do livro “O laço que virou abraço” e na produção de texto ilustrado acerca das emoções explanadas na história. O  resultado final foi a criação de dois livros, um por turma.
Em síntese, este método pode ser uma ferramenta educacional a ser utilizada para regular as emoções, além de fomentar o gosto e o interesse pela leitura e escrita.

Sessão 6

Português língua estrangeira e inteligência artificial: fronteiras borradas

Christiane Moisés

Universidade de Brasília, Brasil

 

Muito se há falado de quebras de paradigmas na Educação; no entanto, mal os professores se recompõem para adaptar-se à  era pós-covid e a Inteligência Artificial (IA) já está em pleno uso pela sociedade e pela geração Alpha.  A aplicabilidade de IA  remonta aos anos 50; entretanto, a partir da acessibilidade da tecnologia digital e, consequentemente, de ferramentas de criação passamos a vivenciar o processo denominado “singularidade da tecnologia” (“technological singularity”), no qual ferramentas de IA nos são disponibilizadas desde meados de 2021 e estão pavimentando o caminho da sociedade contemporânea (GABRIEL, M; 2022). Ora, essa hibridização exponencial de máquinas e humanos (LATOUR, 2012) nos direcionam à Sociedade 5.0 (FUKUYAMA, 2018). Mediante esse contexto, a motivação desse trabalho é o desenvolvimento de competências digitais críticas de professores de línguas, em pré-serviço para utilizar as ferramentas de IA e integrá-las em sua prática pedagógica em PLE/PLAc  em grupos de alunos de graduação e pós-graduação em uma universidade pública no Brasil. Esse estudo abordará os passos dessa formação de professores, os aplicativos utilizados, a metodologia aplicada, os usos criativos de ferramentas de IA em PLE e o nível de protagonismo gerenciado tanto pelos professores como os alunos. Como resultado, demonstraremos os aspectos inovadores, críticos e criativos na  aquisição e no ensino de PLE, considerando-se os desafios  e as oportunidades que a IA traz à Educação.

 

Reflexões sobre a eficácia das inovações tecnológicas ePortfólio e ChatGPT enquanto recursos para o ensino de língua

Catia Martins

York University, Canada

 

Este trabalho é uma reflexão acerca da eficácia das tecnologias ePortifólio e ChatGTP enquanto recursos para o ensino de língua. À luz da educação linguística, visa analisar o emprego dessas tecnologias para a mediação intercultural dos estudantes de português na York University, Canadá. As práticas investigativas com o ePortifólio e ChatGTP suscitaram duas questões: a) Como a compreensão do professor sobre os recursos tecnológicos pode impactar criativa e criticamente as práticas de ensino e os seus processos de avaliação? b) Como as tecnologias podem facilitar, promover e melhorar o envolvimento do aluno, interação e produção em diferentes contextos? Em consonância com a abordagem sociointeracionista, as práticas investigativas realizaram-se em ambiente multilingue e multicultural de aprendizagem de língua portuguesa e contemplaram conteúdos de língua e cultura, considerando as dimensões socioculturais, a relação entre as perspectivas dos multiletramentos e do multiculturalismo. O ePortifólio e o ChatGPT possibilitaram realizar atividades de ensino, pesquisa, análise, síntese e registro da língua e contribuíram para a dimensão autônoma e criativa do processo de ensino-aprendizagem. Compreendeu-se as limitações dos recursos tecnológicos em diferentes contextos de interação e considerou-se o planejamento das atividades, os ambientes de mediação e os impactos observados nas avaliações como relevantes à aferição da eficácia.

 

A prática de descrever a partir de passeios virtuais

Leila Vieira

The Ohio State University, EUA

 

A habilidade de descrever objetos, construções, monumentos e outras obras de arte detalhada e precisamente é essencial no aprendizado de um idioma, e é uma das funções da linguagem requerida pela ACTFL para os níveis avançados. Porém, muitas vezes os alunos não têm a oportunidade de praticar esta função de maneira intencional. Nesta apresentação, eu irei expor ferramentas digitais (como AirPano, CityWalks e Drive & Listen) que auxiliam na prática de descrição de prédios, construções e monumentos em português, e sugestões de atividades para introduzir esta prática em todos os níveis do ensino ao nível universitário. Proponho que o uso de recursos digitais para visitar virtualmente cidades lusófonas (não somente as populares cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, mas também Curitiba, Recife, e Lisboa, em Portugal, por exemplo) é um exercício mais válido do que descrever prédios e monumentos locais pelo elemento adicional da experiência da cultura alvo. Os "passeios" virtuais possibilitam que os estudantes aprimorem sua competência cultural, ao serem inseridos em ambientes lusófonos, e que desenvolvam sua habilidade de descrição ao se depararem com prédios e monumentos nestas cidades.

  

Ensino remoto emergencial: percepções sobre os Planos de Estudos Tutorados de língua portuguesa do Ensino Médio

Marília de Carvalho Caetano Oliveira

Universidade Federal de São João del-Rei, Brasil

 

Este trabalho vem sendo desenvolvido no âmbito do Grupo de Pesquisa “Letramentos, Gêneros e Ensino” (UFSJ/CNPq). Pretendemos analisar aqui as apreciações dos(as) estudantes e da professora sobre a proposta do eixo “Compreensão e Produção de Textos”, trazida pelos Planos de Estudos Tutorados (PETs) de língua portuguesa, em uma turma do segundo ano do ensino médio de uma escola pública mineira. Como perspectiva teórica, mobilizamos autores que discutem o ensino de línguas numa perspectiva discursiva e social: Bronkcart (2010), Dolz e Schneuwly (2004), Antunes (2003), Lea e Street (1998) e Street (2014), além da Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2018). Em termos metodológicos, realizamos um estudo qualitativo-interpretativista (PAIVA, 2019), em que utilizamos questionários como instrumento de geração de dados. Os resultados revelaram que, apesar de a professora considerar que o material contém textos relacionados à realidade dos(as) alunos(as), ele também apresentou muitos erros e atividades não desafiadoras. Já os(as) estudantes manifestaram falta de motivação para aprenderem na modalidade remota, considerando que tiveram pouco contato com a docente e que as respostas às atividades estavam disponíveis na internet. Esses aspectos, portanto, levam a crer que, de modo geral, os resultados ficaram aquém do esperado. Sendo assim, os dados aqui obtidos poderão subsidiar algumas estratégias mitigadoras, para que esses(as) jovens consigam recuperar seu processo de aprendizagem.

Sessão 7

O Texto Literário no ensino de Português Língua Não Materna

Tânia Ferreira

Universidade de Coimbra, Portugal

Susana Nunes

Instituto Politécnico de Leiria, Portugal


Nesta comunicação, apresenta-se e analisa-se uma sequência didática que visa o desenvolvimento da compreensão escrita e da competência lexical por aprendentes tardios de Português Europeu como Língua Não Materna (PLNM), do nível intermédio, a partir da exploração do conto A Arca do Tesouro, da autoria de Alice Vieira (Vieira, 2010). Com esta proposta procura-se refletir acerca das particularidades relativas ao uso do texto literário no ensino de PLNM, perspetivado como ferramenta de interação em sala de aula.
As opções metodológicas adotadas baseiam-se nos princípios definidos no âmbito do Ensino de Línguas Baseado em Tarefas (ELBT) (Ellis, 2003; Long, 2015; Nunan, 2004) e integram os pressupostos referentes aos efeitos da instrução para a aprendizagem linguística (Ellis, 2005; Tomlinson, 2009; Long, 2011) e ao papel do texto literário em abordagens pedagógicas comunicativas (Lazar, 1993; Paran, 2008; Mota, 2010; Sequeira, 2013). As diferentes tarefas elaboradas têm como intuito promover um processo de aprendizagem dinâmico, colaborativo e cooperativo, centrado no aprendente, e preconizam o ensino explícito das estruturas e dos usos sociopragmáticos da língua a partir de materiais autênticos. Por fim, através desta proposta pretende-se enfatizar que o recurso ao texto literário constitui uma mais-valia para promover a motivação do aluno, estimulando a interação e o diálogo intercultural, além de promover o desenvolvimento das suas competências linguísticas.

 

Materiais didáticos e obras literárias no ensino/aprendizagem on-line de PLE: reflexões iniciais

Douglas Altamiro Consolo

Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", Brasil

 

Apresentam-se, nesta comunicação, a estrutura e os primeiros resultados de um projeto de ensino e de pesquisa cujos focos centram-se em um levantamento e na análise de conteúdos, e na produção e utilização de materiais didáticos (MDs) para o ensino e a aprendizagem de português como língua estrangeira (PLE) na modalidade on-line, produzidos e utilizados em um Centro de Línguas e Desenvolvimento de Professores (CLDP) do IBILCE-UNESP. Destaca-se a utilização de obras literárias nesses MDs, considerando que obras literárias constituem ricas fontes de informações sobre aspectos culturais, históricos e sociais das épocas em que foram produzidas, ou sobre informações retratadas em tais textos cujos temas são de interesse na atualidade. Dado o potencial de obras literárias também para o ensino e a aprendizagem de línguas, objetiva-se investigar conteúdos e procedimentos metodológicos de ensino nos referidos MDs, e como obras literárias podem favorecer a elaboração de materiais didáticos e o ensino/aprendizagem de PLE. Tratam-se também das contribuições da experiência da elaboração dos MDs e sua utilização em aulas de PLE, para a formação docente complementar de alunos de licenciatura e de pós-graduação em Letras. Serão apresentados resultados da etapa piloto do projeto: algumas preferências de alunos de PLE por determinados gêneros literários, e exemplos de MDs produzidos e utilizados em aulas do referido CLDP.

 

Uma proposta interacional-discursiva para o ensino de leitura

Wilma Maria Pereira

Instituto Federal de Educação do Triângulo Mineiro, Brasil

 

Adotamos neste trabalho a concepção de que toda comunicação é um processo constante de negociação entre interlocutores. Nesta concepção, admite-se os discursos como interações verbais situadas cuja organização decorre de um complexo e heterogêneo conjunto de informações. Nesse sentido, faz-se necessário um modelo teórico-metodológico que forneça ferramentas de análise capazes de descrever de forma sistemática todas as dimensões que os constituem. Sendo assim, o objetivo deste trabalho é apresentar a proposta do Modelo de Análise Modular do Discurso e o seu quadro metodológico como uma sugestão para orientar a prática docente no que se refere ao ensino de leitura e de interpretação de textos. Ao fornecer a possibilidade de isolar sistemas simples de informação, para posteriormente descrever como essas informações podem ser combinadas entre si, estabelecendo relações complexas na estrutura dos discursos, a proposta modular avança no sentido de oferecer mecanismos descritivos e analíticos mais amplos que podem ser utilizados para o desenvolvimento de estratégias para um ensino mais efetivo de análise de texto. Trata-se de uma abordagem que pode orientar o professor na ampliação e na criação de estratégias que podem ser adotadas para o trabalho diário com todos os tipos de gêneros textuais. Busca-se, assim, apresentar a potencialidade do MAM como ferramenta pedagógica de ensino-aprendizagem da competência comunicativa em relação à leitura e à interpretação de textos.

Sessão 8

Vai usar eles ou não vai usá-los? Contextos de preferência de uso dos pronomes oblíquos da terceira pessoa no âmbito de PL2E para hispanofalantes

Oscar Meléndez

Universidad Peruana de Ciencias Aplicadas, Peru

 

O ensino de PL2E é um desafio constante, pois o comportamento linguístico dos falantes no Brasil é muito variado e é influenciado por muitos fatores relacionados a questões sociais, pragmáticas, cognitivas, contextuais, entre outras. Portanto, é importante que o aprendiz seja ciente de tais flutuações da língua em contextos reais de uso (cotidiano).Esta pesquisa visa descrever e analisar os usos dos pronomes oblíquos da terceira pessoa no discurso oral do cotidiano brasileiro, considerando os contextos discursivos e valores semântico-pragmáticos. Para tal, baseamo-nos no modelo da Gramática Funcional do Discurso, modelo proposto por Hengeveld (2004), que o considera um processo top-down (descendente) que parte da intenção do falante para expressão das formas linguísticas, além de contexto discursivo e os interlocutores. Para a realização desse estudo, falas do programa Altas Horas da Rede Globo e da transcrição de uma acareação (documento público) foram levantadas e/ou transcritas. Os dados apresentados mostram os contextos discursivos e as escolhas feitas pelos interlocutores que vão além das estruturas apontadas pelas gramáticas prescritivas. Os resultados nos permitem entender, também, as dificuldades e/ou desafios que os aprendizes hispanofalantes de PLE/PL2 podem ter na hora de enfrentar e usar os pronomes oblíquos da terceira no português brasileiro.
Gramática​Funcional​do​Discurso;​Português Brasileiro; Espanhol; PLE; Gramática-comparada

 

Considerações sobre colocação pronominal e ensino de português como L1

Mirian Santos de Cerqueira

Universidade Federal de Goiás, Brasil

 

A presente comunicação tem como objetivo central discorrer sobre algumas possibilidades metodológicas de abordagem da colocação pronominal em contextos de ensino e aprendizagem de língua portuguesa como L1. Para isso, partimos de uma ampla revisão de literatura sobre os clíticos pronominais no português brasileiro e selecionamos dois textos literários e uma tira humorística para analisar seus aspectos gramaticais e discursivos, especialmente, os relacionados ao uso dos clíticos, ao mesmo tempo em que problematizamos a transposição didática da análise ao ensino de língua portuguesa. Os resultados do estudo mostraram que, nas aulas de língua portuguesa, é possível avançar para além das regras gramaticais prescritivas, valorizar diferentes manifestações de uso da língua e integrar as frentes de língua portuguesa. Estudos como o desenvolvido neste estudo podem contribuir para a reflexão sobre a relação entre gramática, leitura e produção textual.

 

Que isso? Análise das situações de uso da expressão e sua relevância para o ensino de PLE/PL2

Gracieli da Silva Reis

Instituto Guimarães Rosa, Lima / Universidad de Lima, Peru

 

O estudo se propõe a analisar e descrever o uso da expressão formulaica “que isso” em diferentes situações discursivas no cotidiano brasileiro, e tem como base a perspectiva semântico-funcional, através do Funcionalismo, a partir de Modesto (2006), da Sociolinguística Interacional, com base em Gumperz (1983), da Semântica, segundo Castilho (2014) e da Entonação, tomando como referência os estudos de Cantero (2002 apud ARAÚJO, 2014). O corpus que subsidiou a pesquisa compõe-se de excertos coletados do filme “Minha vida em Marte” lançado em dezembro de 2018. Com base nesse corpus, foram analisados, descritos e classificados os usos da expressão “que isso”, e foram encontradas 7 diferentes categorias para seu emprego na interação cotidiana. Além da categorização apresentada, é sugerida uma proposta didática para abordar o tema com aprendentes de português como língua estrangeira. Palavras-chave: Ensino de português para estrangeiros; PLE/PL2; Sociolinguística Interacional; Expressões Formulaicas; Entonação.

Sessão 9

Os dicionários digitais de língua corrente como ferramenta pedagógica na didática de línguas estrangeiras

Susana Duarte Martins

Universidade NOVA de Lisboa, Portugal

 

O dicionário é um recurso linguístico entendido como objeto cultural, representativo do corpus de uma língua, com caráter descritivo, didático e normalizador (Lino, 2018). Enquanto ferramenta pedagógica integra várias abordagens metodológicas no ensino de línguas, apesar de as suas potencialidades não serem devidamente exploradas, incluindo em documentos orientadores (Kaspary, 2021). De facto, quanto mais proficiente o utilizador, menor o protagonismo atribuído ao dicionário no desenvolvimento das suas competências linguísticas.
Neste sentido, começaremos por debater o estatuto dos dicionários entre os métodos e abordagens de ensino de línguas numa perspetiva diacrónica, bem como a sua presença no QECR (2001, 2020). Em seguida, apresentar-se-ão propostas de atividades de receção e produção textuais desenvolvidas com estudantes universitários de nível C1, com o objetivo de sensibilizar para o potencial dos dicionários de língua corrente entre alunos proficientes, mediante análise da estrutura de algumas unidades lexicais dos dicionários digitais mais utilizados no português europeu (Infopédia, Priberam). Demonstraremos, assim, como os dicionários podem contribuir para a aquisição de novos conhecimentos relativamente a marcas de uso da língua, idiomatismos, calão e outro tipo de informações relevantes para o acesso a elementos de cultura partilhada (Galisson, 1987), especialmente importantes no caso de línguas com diferentes variedades como é o caso do português.

 

A importância de incorporação de práticas de teletandem no currículo de português como língua estrangeira

Anelly Mendoza Díaz

Universidad Nacional Autónoma de México

 

É necessário referir-se às práticas de teletandem como ambiente de aprendizagem de línguas estrangeiras. Em um mundo globalizado e inclusivo, o embaçamento das fronteiras linguísticas e culturais não é novidade. O ensino de línguas estrangeiras tem vindo a incorporar novas metodologias, bem como inovação tecnológica ao nível curricular dadas as características do perfil do aprendente, bem como a necessidade de tratar a transculturalidade e os diferentes eixos transversais nos diferentes programas. Nesse sentido, as práticas de teletandem vêm ganhando espaço nos cursos de língua estrangeira, com o objetivo de incorporá-las ao currículo.
Como essas práticas poderiam ser incorporadas ao currículo de língua estrangeira nas universidades, apesar de todos os protocolos e recursos necessários? No presente trabalho, serão analisadas as diferentes arestas para a incorporação de práticas tandem em sessões programadas, híbridas ou independentes com as universidades amigas, serão vistas as características do novo perfil docente como mediador teletandem, bem como o papel ativo do aprendiz nas ditas práticas.
Espera-se que este trabalho seja útil para professores ou pessoas interessadas no assunto

 

Aprendizagem fora da sala de aula: o efeito de um programa de imersão linguística

Jorge Pinto

Universidade de Lisboa, Portugal

 

Atualmente, graças aos programas de mobilidade, os alunos têm mais oportunidades de contacto com as línguas nos contextos em que estas são faladas. Numa situação de imersão linguística, espera-se que os alunos utilizem mais estratégias para aprender a língua fora da sala de aula (Nunan & Richards 2015) e que desenvolvam outras competências linguísticas que não se adquirem facilmente em contexto formal de aprendizagem (Choi 2017). No entanto, sabemos que nem sempre esta oportunidade que os alunos têm se traduz num real desenvolvimento de atividades na comunidade para ampliar a sua competência comunicativa (Hyland 2004).
Neste sentido, pretende-se apresentar os resultados de um estudo realizado com 89 alunos, de diferentes nacionalidades, de um curso de PLE do nível B1, decorrido na Universidade de Lisboa. Estes informantes responderam a um questionário no início e no final da imersão linguística, que tinha por objetivo verificar em que medida o período de imersão fomentou a aquisição de novas estratégias de aprendizagem ou o aumento da frequência das que os alunos já possuíam.
Os resultados revelaram um incremento da frequência das estratégias de aprendizagem da língua fora da sala de aula e uma alteração da perceção dos alunos sobre o uso da língua em contextos informais. Devem os professores estar atentos para esta realidade e incentivarem e promoverem atividades de aprendizagem na comunidade, expondo os alunos ao contacto com a língua em situações autênticas de comunicação.

Sessão 10

A cultura brasileira no ensino de PLH: como se escolhe o que ensinar?

Ana Lucia Lico

ABRACE, EUA / Coalition, EUA / Universidade Federal de São Carlos, Brasil

 

Há anos pesquisadores e professores debatem as questões de ensino de cultura nas aulas de língua de língua estrangeira, em especial com relação à que cultura ensinar, de que forma fazê-lo e como levar em consideração a cultura do aluno (KRAMSCH, 2017). Esse debate, igualmente importante para o contexto do português como língua de herança (PLH), torna-se mais necessário diante da demanda para que as aulas de português e cultura brasileira das associações comunitárias sejam cada vez mais inclusivas e representativas da diversidade cultural do Brasil.
A construção do referencial da identidade (brasileira) para o falante de herança é perpassada por elementos culturais variados, tanto do mundo das artes e literatura, quanto de elementos da vida cotidiana, como “a forma de comportar-se, comer, conversar, viver, de nativos da língua, bem como os seus costumes, crenças e valores” (SALOMÃO, 2015). Se os programas de PLH têm o objetivo de contribuir para formar indivíduos que valorizem a pluralidade de repertórios, sem elitismos ou preconceitos culturais, torna-se urgente refletir sobre quais são e como são ensinados os conteúdos de cultura, se representam (ou não) os diversos grupos sociais do Brasil, e se dialogam (ou não) com a história de vida das crianças e suas famílias. A partir de determinados artigos sobre o papel da cultura no ensino de línguas e algumas propostas curriculares, esta apresentação se propõe a inspirar e a indicar caminhos para a realização dessa análise.

 

Como criar aulas de português como língua de herança

Hasan Shahid

United States Military Academy, EUA

 

O português é amplamente ensinado como língua estrangeira e de herança no ensino médio nas escolas públicas de Massachusetts. Depois do inglês e do espanhol, o português é a língua mais falada no estado devido à grande população de descendentes de portugueses, brasileiros e cabo-verdianos. Minha apresentação, que se baseia em minha experiência como professor de português no ensino médio no estado, destaca a necessidade de desenvolver e utilizar currículos e estratégias de ensino especializados para atender a falantes de herança. A grande maioria dos livros didáticos de português publicados nos Estados Unidos não atendem adequadamente a essa população, pois atendem mais às necessidades daqueles que estudam portugês como língua estrangeira. Consequentemente, dado a seu conhecimento prévio de português, os falantes de herança muitas vezes acham esses materiais confusos, muito fáceis ou excessivamente técnicos. Minha apresentação argumenta que currículos e estratégias de ensino que levam em consideração os vários graus de conhecimento cultural e linguístico que os falantes de herança trazem para a sala de aula resultam em um ambiente de aprendizado mais eficaz. Ao considerar o perfil único desses alunos, minha apresentação descreve os passos necessários para criar aulas de português como língua de herança, tendo como objetivo compartilhar dois anos de experiências pessoais com quem atua na área.

 

Atividades pedagógicas em PLH/POLH pelo mundo

Silvia Ines Coneglian Carrilho de Vasconcelos

Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil

 

O tema central desta comunicação é apresentar os resultados parciais de pesquisa realizada a partir de um levantamento das atividades pedagógicas na manutenção ou no desenvolvimento de habilidades de uso da língua portuguesa como língua de herança, práticas essas utilizadas por brasileiras e brasileiros que vivem em diversos países dos cinco continentes, quer sejam pais ou profissionais da educação. O levantamento foi feito a partir da disponibilização das atividades pedagógicas por grupos ou comunidades de incentivo ao PLH/POLH. A importância de tal levantamento e sua consequente divulgação se deve ao fato de que uma cartografia possível do que está sendo levado a efeito por comunidades diaspóricas de língua portuguesa na modalidade brasileira ou PB (português do Brasil) pode dar mais precisão em relação a diretrizes para políticas de língua tanto locais como governamentais como também visibilizar o trabalho pedagógico notável que vem sendo realizado em tais comunidades. Os critérios utilizados para a análise envolveram: a) faixa etária; b) estratégias de estímulo ao uso da língua portuguesa; c) tipos de atividades pedagógicas; d) orientação teórica na aplicação das atividades. Os resultados parciais indicam o uso frequente de atividades lúdicas e humorísticas da tradição do brincar no Brasil; atividades culturais em datas de eventos cívicos e folclóricos brasileiros; acesso à literatura de clássicos e de histórias em quadrinhos.

Sessão 11

A fala do refugiado: português como segunda língua como ferramenta de inserção

Susanna Florissi

Torre de Babel Idiomas e Culturas, Brasil

 

Minha fala abordará todo o processo de implementação, acompanhamento e resultados de um projeto voluntário sólido de ensino de Português como Segunda Língua a refugiados e migrantes no Brasil, em especial a afegãos, bolivianos, haitianos, indianos, malenses, sírios, ucranianos e venezuelanos. Cobrirei as dificuldades encontradas e as soluções que desenvolvemos, assim como o trabalho de capacitação de voluntários que não são necessariamente Professores de português, muito menos a estrangeiros. Nota especial será dada às questões das diferenças culturais que esse público apresenta quando inicia sua socialização no nosso país e que devem ser trabalhadas nas aulas de PSL, com realce ao trabalho feito para a sua empregabilidade como recurso de sobrevivência financeira. Trarei ainda algumas sugestões de possíveis pesquisas de Mestrado e Doutorado a serem analisadas por aqueles que buscam ideias de novos estudos nas áreas de PSL e PLE. A apresentação trará dados, números e gráficos importantes e mostrará também como essa experiência pode ser multiplicada em outros países com refugiados e migrantes tanto brasileiros quanto de outras nacionalidades. Acredito que este tema acrescentará muito à prática de ensino tanto de Professores já experientes quanto aos que estão iniciando nesse universo.

 

Projeto Portas Abertas: o ensino de português para migrantes como política pública em São Paulo

Ana Gabriel

Universidade de São Paulo, Brasil

 

O Projeto Portas Abertas: português para imigrantes é uma política pública que, em parceria com a Secretaria de Direitos Humanos que oferece curso, gratuito, de língua portuguesa à comunidade migrante da cidade de São Paulo, para garantir os direitos para a população migrante e propiciar sua inserção no mercado de trabalho formal. Embora haja 360 mil migrantes internacionais na cidade, a adesão aos cursos de português é baixa e demanda análise. Tal hiato pode ser resultado de divulgação desacertada, receio dos migrantes de acessar os aparelhos públicos, qualificação docente específica para o ensino de português como língua segunda ou revisão dos marcos regulatórios teóricos novas proposições. A fim de ampliar a Política Pública à população migrante e redimensionar o projeto Portas Abertas, a Secretaria Municipal de Educação da cidade de São Paulo se propôs revisar a legislação que trata da oferta e permanência nos cursos de português bem como desenhar políticas públicas de ensino de língua portuguesa para migrantes internacionais. Os resultados, ainda que incipientes, apontam para a iminência de redesenho de políticas públicas de línguas, em especial para o ensino de língua portuguesa em contexto multicultural e multilíngue, com enfoque intercultural, bem como a produção de material orientador e formação pedagógica específica para o contexto

 

O ensino de português para imigrantes venezuelanos: a língua como mecanismo de acolhimento, de pertencimento e de empoderamento

Celina Oliveira Barbosa Gomes

Instituto Federal do Paraná, Brasil

 

Em 2022, o Instituto Federal do Paraná – Campus Assis Chateaubriand realizou o curso “Português para Imigrantes”, atendendo estudantes paraguaias e, no segundo semestre, alunos venezuelanos com demandas de inserção na comunidade. O intuito era promover o conhecimento instrumental da língua pelos estudantes e possibilitar seu acesso às oportunidades de trabalho e de interação. Porém, observou-se, precisamente com a segunda turma, que a aprendizagem do português caracterizou-se como uma forma autônoma, consciente e digna de entender-se como imigrante e de ressignificar a própria vida em outro país, o que exigiu o ajuste da abordagem pedagógica para fins de uma formação humana e social mais amplas.
Diante da condição de invisibilidade documental, sociocultural, política e do preconceito (de latinos contra os próprios latinos (MONSMA e TRUZZI, 2018)), além do desconhecimento linguístico, muitos indivíduos incorreram em trabalhos informais, o que requereu um ensino que prevenisse a sonegação da língua, dos saberes e direitos veiculados por ela. As aulas passaram, então, a abordar o contexto interativo dos estudantes. Em paralelo, textos e discussões foram propostos para introduzir aspectos gramaticais e discursivos da língua, mostrando seus usos na comunicação de suas demandas – em um exercício de fala daquele antes tido como subalterno por muitos, para lembrar Spivak (2010). Ao final, os alunos passaram a fazer cursos técnicos no Instituto, atestando o desejo de mudar de vida.

Sessão 12

Projeto cultural: uma abordagem inovadora, divertida e envolvente na aquisição da língua portuguesa

Ismênia de Souza

US Air Force Academy, EUA

 

A criatividade parece ser um atributo subestimado em sala de aula. Não o mencionamos com frequência em nossos resultados, nem o avaliamos com frequência. No entanto, liberar a criatividade pode trazer uma energia para a sala de aula que é praticamente inigualável. Envolve a transformação de material cultural e linguístico em novas formas. Requer a integração de material em um nível que permita uma aprendizagem transformadora. Se planejar para a criatividade parece ser um anátema para a própria criatividade, devemos no mínimo (re)definir espaço. Isso pode envolver atribuições, atividades e aprendizado colaborativo que permitem a diferença e o pensamento inovador. Essa apresentação irá fomentar, demonstrar estratégias e métodos inovadores nos cursos de língua portuguesa. A apresentação mostrará que a criação de um livro cultural levará à construção da alfabetização, habilidades de escrita e conversas animadas à medida que os alunos criam e apresentam o livro. Além disso, este projeto desenvolverá habilidades comunicativas, vocabulário e proficiência cultural. Finalmente, o projeto do livro cultural promoverá a motivação, a auto-realização e a confiança na aquisição de uma língua estrangeira.

 

Cantando a II Guerra Mundial: uma proposta interdisciplinar.

Neiva  Ravagnoli

Renata Wilmersdorfer

Miami-Dade County Public Schools, EUA

 

Hoje, as escolas contam com alunos vindos de vários países e culturas que interagem na profusão de habilidades linguísticas e bagagem cultural presentes na sala de aula. Eventualmente, ao invés de se privilegiarem com um ensino com foco na   heterogeneidade, esses alunos são tolhidos por abordagens generalizadas. Tal cenário motivou estas autoras a criar um projeto transdisciplinar (Português e Humanidades) para um 9º ano de uma escola de currículo duplo. A escola adota livros didático do Brasil, cujos objetivos às vezes se inviabilizam, pois o grupo de alunos não é homogêneo. Assim,  as autoras criaram o projeto a partir de práticas transdisciplinares. O tema do projeto em Humanidades foi a II Guerra Mundial e a partir desse tema, Português trabalhou com vocabulário, interpretação textual, morfologia, poesia e semiótica.  O produto final, foi um poema musicalizado, gravado em vídeo e o apresentado em QR code. Ao estudarem o tema sob várias vieses, os alunos se interconectaram com as visões dos demais alunos, afetando e sendo afetado mutuamente. As autoras se baseiam na Complexidade e advogam que ao perpassar várias competências em  um mesmo projeto, estão corroborando as premissas interdisciplinares da Educação do Futuro, proposta conjunta de Morin (1999) e da UNESCO: Educar para um Mundo Sustentável. A educação deve ter o cuidado de não permitir que a ideia da unidade da espécie humana apague o fato da sua diversidade, ou a ideia da sua diversidade apague a sua unidade.

 

A arte de olhar

Nereide Schilaro Santa Rosa

Underline Publishing / Focus Brasil NY – Encontro Mundial de Literatura Brasileira / Academia  Internacional de Literatura Brasileira, EUA

 

Os trabalhos de arte produzidos pela criança não são simples marcas sobre um suporte qualquer, mas resultados de sua elaboração mental, que é construída a partir da leitura que ela faz de si mesma e do mundo. Por meio de uma linguagem simbólica, a criança expressa a sua própria realidade, construída a partir da seleção de suas experiências em relação ao meio circundante e a si mesma.O olhar crítico é uma das maneiras que favorece essa reelaboração e “reconstrução” cognitiva. Para desenvolvê-lo, é preciso possibilitar à criança o exercício de observação e leitura de conteúdos expressivos das obras de arte. A troca de idéias, a análise e a observação dos meios e formas artísticas favorecem o processo de construção da inteligência. A presente proposta traz ao professores de língua portuguesa a possibilidade de trabalhar com a oralidade e leitura de imagens através de obras de arte. Para tanto , desenvolve-se a fruição, a reflexão em cada obra de arte  analisada segundo um olhar: a função das cores, o espaço no plano, o retrato do cotidiano, o uso da luz, o realismo da forma, o retrato da natureza. A intenção do artista é analisada em todas as obras de arte apresentadas. O objetivo é trabalhar os símbolos, os signos, as imagens e a construção do saber crítico e criativo na produção e entendimento de textos. A palestra se baseia na Coleção A Arte de Olhar, ganhadora do Premio Jabuti pela autora Nereide Santa Rosa.

Sessão 13

Em defesa da língua portuguesa e das crianças brasileiras: O uso de legislação contra a linguagem neutra

Gabriel Chagas

University of Miami, EUA

Gláucia Silva

University of Massachusetts - Dartmouth, EUA

 

Nesta apresentação, analisam-se projetos de lei brasileiros que visam proibir o uso de linguagem não binária em escolas. Tendo em vista a perseguição histórica de grupos minorizados, propõe-se uma reflexão a respeito de iniciativas legais que tratam a linguagem não binária como uma ameaça à língua portuguesa e às crianças. O gênero gramatical em línguas neolatinas, inclusive o português, tende a ser confundido com a identidade das pessoas. Essa identidade reflete as experiências de cada indivíduo, inclusive de quem se encontra fora do sistema binário imposto pelo gênero gramatical. O uso de formas linguísticas que reflitam as identidades de pessoas distintas é uma questão de direitos humanos e de justiça educacional. Argumentamos que o ataque à linguagem não binária reinventa uma tradição de segregação que perpetua as estruturas de poder e que o debate linguístico que supostamente justifica os projetos de lei é o resultado de um “fascismo linguístico” que caracteriza agendas conservadoras no Brasil. Alegamos, portanto, que as tentativas de proibição da linguagem não binária reforçam a perseguição de minorias no século XXI. Na totalidade, 58 projetos de lei foram apresentados em 22 estados brasileiros entre os anos de 2020 e 2023. Através da análise de alguns desses projetos, mostramos que a inclusividade é descrita como uma ameaça à língua portuguesa e às crianças brasileiras.

 

Migraportucast.com: readequação de um curso de PLA para todas, todes e todos

Pedro Henrique Malafaia

Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado, Brasil

 

A presente proposta é parte da minha dissertação de mestrado e apresentação de reformulação de um curso de PLA. Inicialmente realizado de forma presencial na Casa 1, república de acolhimento para pessoas LGBTQIA+ em situação de vulnerabilidade social em São Paulo capital, desde o advento da pandemia que passa por um processo de readequação de seus pressupostos pedagógicos e metodológicos. Agora oferecido de forma inteiramente online por meio do endereço www.migraportucast.com, utiliza de podcasts gravados com migrantes aprendizes de português e emigrados brasileiros no exterior, na confecção de materiais autoinstrucionais de acesso gratuito com enfoque intercultural crítico. Por interculturalidade crítica compreendemos uma visão não essencialista de cultura, em que os agentes são instigados a refletir criticamente sobre seus próprios percursos identitários e linguísticos, e a cultura como “construção discursiva forjada na interação” (FERRI, p. 20). De igual modo, partimos do princípio de que a proposta contribui para uma visão de democracia agonística tal como defendida por Mouffe (1999) e Sant et al. (2020) em que entende-se o conflito e o dissenso como elementos fundamentais dessa forma de governo, com possibilidade de acordos contingentes e pontuais. Por tratar-se de um curso aberto a um público diverso não exclusivamente LGBTQIA+, esperamos criar oportunidades de encontros genuínos com todas formas possíveis de diferenças sem obliterá-las (HANSEN, 2010; SANTOS, 2009).

 

Compreender a motivação, a autocensura e as emoções como cofatores que entram no processo da aprendizagem e uso da língua portuguesa

Petr Pasek

Universidade Federal da Bahia, Brasil

 

O cidadão global vive interculturalmente, com múltiplas identidades (PASEK, 2022), reconhece, compreende o mundo como um todo, e tem seu papel social dentro da cultura onde está inserido. Este trabalho baseia-se na tese de doutorado do autor (PASEK, 2022), que examinou nove tchecos residentes no Brasil aprendentes do idioma local; e busca refletir e aplicar os conhecimentos científicos adquiridos à prática pedagógica de professores de português em ambientes interculturais, podendo assim, por meio da linguística aplicada, servir como auxílio na sala de aula. A aprendizagem de línguas estrangeiras não deve ocorrer apenas no sentido teórico (vocabulário, gramática etc.), mas também envolvendo a compreensão e a competência de comunicação intercultural relacionada. Para tal, o autor descreveu os fatores que entram neste processo como codeterminantes: motivação, emoções, oportunidades, necessidades, choque cultural, segurança, adaptação, assimilação, integração, papel social do indivíduo, autocensura e frustração. O trabalho discute os três mais influentes que entram ativamente neste processo: a motivação, a autocensura e as emoções, os quais poderiam ser utilizados positivamente no ensino e aprendizagem do português. Uma compreensão mais ampla desses fatores poderia ser uma possível base de aprendizagem e uso de línguas em um mundo globalizado, quando estas são vistas como mais um meio de difusão da cultura, o que pode estimular a reflexão sobre possíveis métodos de ensino.

Sessão 14

De que forma podemos abordar a gramática através da leitura? O caso do pretérito imperfeito

Madalena Teixeira

Lúcia Aidos

Universidade de Aveiro, Portugal

 

O presente estudo dá a conhecer como os Domínios da Gramática e da Leitura (Aprendizagens Essenciais, 2018) podem ser trabalhos de forma articulada. A nossa experiência mostrou que os alunos não gostam do Domínio da Gramática e que o mesmo raramente é trabalhado pelo professor. Aproveitando o facto de os alunos desta turma gostarem de ler, colocou-se-nos a seguinte questão de investigação - De que forma podemos abordar a Gramática através da Leitura? O caso do pretérito imperfeito - , tendo definido como objetivos: i) investigar e avaliar o impacto de metodologias didáticas, interrelacionando Domínios; ii) propor aos alunos a realização de um folheto informativo, sobre o seu contexto geográfico, a disponibilizar publicamente; iii) criar um recurso pedagógico, com base no Laboratório Gramatical (LG) (Duarte, 2008; Costa, 2010; Teixeira et al, 2019). A metodologia de investigação adotada é de natureza qualitativa (Bodgan & Biklen, 1994) e os participantes são 28 do 1.º CEB. Os resultados mostraram que estes alunos revelaram melhoria na identificação e no uso do pretérito imperfeito, observando-se implicações na compreensão e interpretação textuais. Esta melhoria é o resultado de reflexões através da descoberta de regularidades e irregularidades da língua. O facto de haver “um propósito” no trabalho a realizar – o folheto informativo – contribuiu para que houvesse empenho e motivação por parte dos alunos.

 

Letramentos Digitais – Novos Gêneros Discursivos – Estratégias Metodológicas de ensino/aprendizagem de Língua Portuguesa

Sandra Mara Moraes Lima

Universidade Federal de São Paulo, Brasil

Claudia Garcia Cavalcante 

Universidade Federal do Paraná - Setor Litoral / Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil

 

O trabalho tem como finalidade subsidiar a prática em sala de aula na universidade no que diz respeito à abordagem dos gêneros discursivos no desenvolvimento da leitura/escrita de língua portuguesa na educação básica. O principal fundamento teórico é do Círculo bakhtiniano e pretende considerar o letramento digital em novas TDICs, tomando como ponto de partida o gênero discursivo. Nesse contexto, a concepção de leitura/escrita é a de comportamentos responsivos em que há necessariamente a presença de um sujeito socialmente situado. O intuito é perseguir uma metodologia de ensino de língua que promova um assenhoreamento do sujeito. Nessa direção, é imprescindível uma estratégia que direcione necessariamente para a conscientização de que ser/estar na linguagem significa dar respostas, ocupar um lugar. Neste artigo especificamente a proposta é centrar-se no conceito de gênero discursivo, propondo atividades práticas de sala de aula a partir de descrição e análise de determinados gêneros digitais que podem favorecer o desenvolvimento da leitura/escrita nessa perspectiva. Para tanto, apresentaremos estratégias de leitura/escrita de 3 gêneros digitais, quais sejam: o Meme, gênero verbo-visual que circula via mídias sociais; o Podcast, gênero da modalidade oral presente nas plataformas de streaming, Spotify, Deezer, etc, e a Fanfiction, gênero primordialmente escrito que também circula na web.

 

O texto literário na aula de PLE: possibilidades e dificuldades

Simone do Carmo Gomes

Instituto Guimarães Rosa, Lima / Colégio Franco Peruano, Peru

 

Por muitos anos a presença de textos literários na sala de PLE era escassa e a sua presença em livros didáticos era limitada, aparecendo somente como um apêndice ou algum pretexto para trabalhar um ponto gramatical. O texto literário nos permite ter acesso a uma grande riqueza linguística, como também, traz um valor cultural, permitindo assim, um encontro com representantes e/ou imaginários de uma cultura que não é nossa. No contexto da sala de aula de cursos de português para estrangeiros, é primordial a inserção do texto literário como elemento enriquecedor da aprendizagem da língua e da cultura alvo. Sabendo das múltiplas vantagens que um texto literário proporciona na aula de PLE, surgiu a seguinte pergunta: de que maneira poderia explorar as potencialidades do texto literário na aula de PLE? Com o intuito de utilizar textos literários desde a perspectiva intercultural de maneira acessível, tanto para os docentes que não estão habituados em contemplá-los em suas aulas, quanto para seus aprendentes, apresentarei propostas de atividades a partir de diversas experiências didáticas desenvolvidas em um colégio particular de Lima com estudantes de PLE, mas que também podem ser adaptadas para o trabalho com estudantes de PL2. Como referente teórico, temos Cosson (2015) que discorre sobre o letramento literário e Takahashi (2008) e Gonçalves (2019) que dissertam sobre o uso da literatura no ensino de português como língua estrangeira.


Abordagens pedagógicas informadas por pesquisas e estas por aquelas: uma coletânea de práticas em contextos de Português como Língua Adicional

Cristina Becker Lopes Perna

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Brasil

Michele Saraiva Carilo

University of Edinburgh, Escócia

 

Esta apresentação objetiva expor uma coletânea de práticas pedagógicas baseadas em projetos de pesquisa e estudos empíricos que tiveram salas de aula como fontes inspiradoras em Português como Língua Adicional (PLA) em diversos contextos educacionais (i.e., pré-primário, primário, secundário e superior – nos níveis de graduação e pós-graduação) no Brasil, nos EUA e em Macau. A motivação para a edição de uma publicação deste porte deu-se pelo fato de que, apesar de ser uma área de conhecimento amplamente reconhecida – principalmente a partir de iniciativas como a criação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, a elaboração de políticas linguísticas nacionais e internacionais que intitularam o Português como uma língua crítica e uma das línguas menos comumente ensinadas nos EUA –, PLA ainda é visto como um campo a ser explorado para além dos limites teórico-pedagógicos dentro dos quais pode ser enquadrado. Quatorze estudos de dezoito pesquisadores foram elencados, analisados sob lentes teórico-pedagógicas da Linguística Aplicada, Sociolinguística, Pragmática, Pedagogias Críticas e Interculturais, Psicolinguística, Linguística de Corpus e Bi/Multi/Plurilinguismo e publicados com vistas a ilustrar a multiplicidade da área de PLA e, para tal, foram divididos em três partes: (1) habilidades específicas, (2) consciência linguística, e (3) inovação pedagógica, os quais visam servir de inspiração para pesquisas, práticas pedagógicas e formação docente em PLA.

Sessão 15

Estratégias para lidar com os desníveis de proficiência entre estudantes em cursos de português

Felipe Neves

Northwestern University, EUA

Roberto Garcia Zevallos

University of Illinois at Chicago, EUA

 

Programas de português em universidades norte-americanas costumam ser (muito) mais recentes e (muito) menos estruturados que os de outras línguas latinas, especialmente os dos “primos-ricos” espanhol e francês. Mesmo em universidades tradicionais e cosmopolitas, professores de língua portuguesa se deparam com programas que lutam para sobreviver e/ou se institucionalizar. O resultado prático disso é que muitas vezes não estão disponíveis para os estudantes as etapas mínimas de desenvolvimento do ensino de língua: básico, intermediário e avançado. Um dos grandes desafios, portanto, é lidar com a disparidade de experiências e níveis de proficiência dos estudantes, agrupados no mesmo curso por falta de opções específicas. Num cenário onde não aceitar estudantes por seu nível de proficiência seria suicídio, o que fazer para manter todos engajados na sala de aula? Vamos apresentar reflexões e estratégias para mitigar essa disparidade entre estudantes e garantir que os mais e os menos proficientes sejam devidamente contemplados e possam desenvolver suas capacidades linguísticas e ampliar seus conhecimentos da língua portuguesa. Entre as iniciativas, vamos incluir o uso de novas tecnologias, como o polêmico ChatGPT. Essa ferramenta poderia ser usada para ajudar na dinâmica de aulas marcadas pelo desnível entre estudantes?

 

O ensino-aprendizagem de pronúncia de PLA para hispanofalantes: algumas estratégias

Vivian Flanzer

University of Texas at Austin, EUA

 

A proximidade exacerbada das línguas espanhola e portuguesa facilita o aprendizado de português por hispanofalantes, mas por outro lado traz também certos empecilhos e frustrações. Dentre estes, destaca-se a dificuldade dos aprendizes em relação à pronúncia do português (Almeida Filho, 2004) que tem origem, em parte, na falta de percepção e na dificuldade da produção de distinções fonológicas entre o português e o espanhol (Grannier, 2004). Nesta comunicação, apresento diferentes estratégias para conscientizar e aumentar a percepção dos aprendizes hispanofalantes para estas distinções fonológicas bem como para aprimorar a produção de oralidade, em especial a pronúncia, em português. Estas estratégias incluem diversas atividades baseadas em músicas e vídeos, e vêm sendo utilizadas com sucesso na sala de aula.

 

Os desafios do ensino de português para falantes de espanhol: pontos críticos.

Raquel Castro Goebel

University of Illinois at Urbana-Champaign, EUA

 

Uma breve análise da constituição de uma típica sala de aula de português nos Estados Unidos, nos permite verificar uma presença significativa de estudantes falantes de línguas românicas. Dentre esse grupo, a grande maioria é formada por falantes de espanhol. A semelhança entre português e espanhol favorece o estabelecimento de pontes de transferência entre as duas línguas seja feito de forma mais acelerada, mas essa transição não está isenta de desafios. Quer seja no modo de pronunciar palavras, na identificação de “falsos amigos”, no uso de preposições ou na grafia de vocábulos, os erros não demoram a surgir.  Sejam erros lexicais, morfossintáticos ou sintáticos, alguns deles se manifestam de forma recorrente. Dada a sua alta incidência, até mesmo em estruturas produzidas por estudantes com nível linguístico mais avançado, eles podem ser considerados “críticos”. Nesta apresentação será feita uma demonstração de como alguns desses pontos críticos, como o uso dos pronomes e adjetivos indefinidos “tudo” e “todos”, podem ser trabalhados de forma intuitiva permitindo quebrar essas barreiras de aprendizado.

 

“Desafiando nossos dragões”: Como São Jorge e sua multiculturalidade podem ajudar falantes de espanhol a vencer dificuldades em português

Ana Clotilde Thomé-Williams

Jacob Brown

Northwestern University, EUA


O estudante proficiente em espanhol encontra muita facilidade, mas também enfrenta obstáculos ao aprender português. Aspectos fonológicos, gramaticais, grafia de palavras e seus diferentes significados, bem como intersecções sócio-culturais apresentam-se a ele como desafios a serem superados na aquisição do novo idioma. Tal desafio, antes de ser do aluno, é do professor, que deve se antecipar às dificuldades do hispano-falante ao preparar conteúdos e práticas de ensino. Nesta apresentação, iremos expor uma atividade extra-curricular em que fizemos um recorte multicultural sobre o legado de  São Jorge e seu sincretismo religioso no Brasil. Atividades de interação oral, trabalho com musicalidade, pronúncia e expressão criativa possibilitaram ao estudante uma reflexão sobre contrastes linguísticos, discussão histórico-cultural e uma conscientização sobre como vencer obstáculos e formas de superá-los.

Oficinas

Strategies for a Language-Rich Classroom: Meeting the Needs of Language Learners

Ana Paula Vieira

The School District of Palm Beach County, EUA

 

Language Learners have continuously faced challenges in learning a new language, and oftentimes are required to learn the new language while also learning content. Through specific strategies, language supports, and scaffolds it is possible to provide the necessary support for students to access the content, and/or learn a foreign language. Session participants will have the opportunity to be part of hands-on activities they can use to assist students in the comprehension of the content while learning the new language. Language supports, scaffolds can be applied to the entire lesson, and at times, depending on the complexity of the content or concept being taught, in specific situations. Through the slides created based on research of language acquisition, guiding principles of language development, as well as strategies to assist in the learning of the language, I will communicate with participants the need for the implementation of activities and supports in the lesson planning, modeling strategies and supports through the presentation. Analytic models and field analysis have not been used by me, however, the strategies and supports incorporated in the session are research-based. and endorsed and endorsed by various theorists, some being new methodologies, while other reviews of known strategies. It is recommended that participants have knowledge of the language proficiency levels of students in order to determine the level of support to be provided.

 

Os sabores do Brasil através da música

John Bagnato

University of Pittsburgh, EUA

 

Similar to the social and sensual experience of music, the flavor and nourishment of food is connected with identity, community, nostalgia, and emotion. Brazilian food is a common trope in popular music. By contrast, food is rarely mentioned in music from the United States. In this workshop, we will examine the significance of lyrical descriptions of food and the insights that they offer into Brazilian culture through researching the foods and the social settings in which they are shared. We will identify regional identities and traditions that are shaped by various dishes, ingredients, and recipes in popular song lyrics. Participants will learn about Brazilian musicians, including Luiz Gonzaga,  Dorival Caymmi, Clara Nunes, Marisa Monte, Djavan, and Chico Buarque, and hear their popular performances that include lyrics about Brazilian gastronomy. The workshop explores commonly featured foods in Brazilian music, like feijoada, tapioca, farofa, vatapá, and caruru through the lens of Brazil’s cultural matrices, its social history, and varied food and agricultural resources. This workshop has been conducted with university students in classes on Brazilian music and with high school age Portuguese students and is applicable to courses in which Brazilian culture and language is taught.

 

Caminhos para a proficiência na escrita de alunos de imersão em língua Portuguesa

Karen Mariette Piovesan Gini

Logan City School District, EUA

 

O ensino de língua portuguesa no estado de Utah é um dos componentes do ensino básico em certas escolas de imersão. Essa oficina busca apresentar reflexões sobre baseia-se na ideia de como criarmos caminhos pedagógicos nas aulas de língua portuguesa para melhorarmos a escrita de alunos de um programa de imersão. O corpo teórico alinha-se ao pensamento de Hyerle (1988) e sua teoria de mapas mentais (Thinking Maps). Essa teoria apresenta algumas soluções para possibilitarmos aos alunos subsídios de escrita e desenvolvimento entre a fase de escrita de frases simples até textos de cinco parágrafos com detalhes e conectivos entre as ideias. Os dados coletados em duas turmas de terceira e quarta série do ensino fundamental de uma escola do estado de Utah nos mostra que a progressão da escrita segundo os preceitos de Hyerle (1988) leva ao desenvolvimento linguístico dos alunos de imersão, criando novas oportunidades para as habilidades de leitura e escrita.
Apesar de ser uma metodologia comumente utilizada nas aulas de língua inglesa, nossa proposta reside em trazermos tal para o campo do ensino de língua portuguesa como imersão e apresentarmos como a utilizamos em nossas salas de aula e os resultados trazidos com tal prática.

 

Do Google Translate ao ChatGPT na aula de PLE: Entre o fogo e a frigideira

Luciane Maimone

Missouri State University, EUA

 

Trinta anos atrás aplicativos para tradução automática de textos passavam a ser usados na formação de tradutores profissionais. Alguns anos depois, disponíveis gratuitamente online, tornavam-se acessíveis a alunos de língua estrangeira, sendo rechaçados por professores de línguas estrangeiras preocupados com os possíveis efeitos negativos de seu uso ao aprendizado. Hoje, com a evolução de ferramentas de Inteligência Artificial (IA), como Google Translate e ChatGPT, o papel destas tecnologias no ensino de língua estrangeira continua uma incógnita.
Nesta oficina, apresentamos uma revisão da pesquisa sobre tradução automática com Google Translate aplicada ao ensino e aprendizado de idiomas, assim como um panorama sobre as percepções de professores e alunos sobre a ética e eficácia dos seus usos no contexto educacional. Tomando este cenário como ponto de partida, discorremos sobre diferenças e semelhanças entre o Google Translate e ChatGPT e convidamos a audiência a compartilhar práticas de ensino, avaliar propostas de integração de ferramentas IA à sala de aula, e a debater sobre as implicações pedagógicas destas novas tecnologias em termos curriculares, metodológicos, e de avaliação em PLE.

 

Explorar o campus e a cidade para aprender e praticar português

Paola Mandala

Universidade de São Paulo, Brasil

 

Compondo as “Estratégias para atividades interativas e comunicativas”, apresento proposta de oficina intitulada “Explorar o campus e a cidade para aprender e praticar português”, voltada para professores de PLE que atuem em ambiente universitário e que precisem elaborar atividades de construção, interação e comunicação para grupo de aprendizes com nível heterogêneo de português. Assim, na mesma atividade, são contemplados os aprendizes de nível iniciante (construção de campos vocabulares sobre o espaço do campus ou da cidade), de nível intermediário (utilização de estruturas para dar informações objetivas sobre o campus ou a cidade) e de nível avançado (elaboração de textos orais para contar a história de determinado local do campus ou da cidade, com opinião ou reflexão sobre a importância dos espaços visitados para a comunidade). Na oficina, os professores irão observar atividades que vêm sendo realizadas há 13 anos com estudantes de PLE em locais do campus da USP-Brasil, como o restaurante estudantil, o cinema, o centro esportivo e a Biblioteca Brasiliana; bem como atividades em espaços da cidade de São Paulo, onde fica o campus, como o Pátio do Colégio, o Museu AfroBrasil e o Memorial do Imigrante. A partir da metodologia vista, os professores irão elaborar as próprias atividades sobre os espaços do campus e da cidade onde atuam, as quais deverão promover a oportunidade de prática da língua entre aprendizes de mesmo nível e de interação com aprendizes de níveis distintos.

 

A análise de discurso no ensino de português como língua estrangeira: uma ferramenta para promover reflexões sobre dizeres que circulam na sociedade

Patricia Reis

Universidade do Estado do Amazonas, Brasil

 

Com base nos estudos de Orlandi (2009), que estabelecem princípios e procedimentos para a Análise de Discurso, compreendemos que o imaginário, importante na constituição do dizer, “não ‘brota’ do nada”, assenta-se no modo como as relações sociais se inscrevem na história e são regidas, em uma sociedade como a nossa, por relações de poder (ORLANDI, 2009, p. 42). Nesse sentido, propomos desenvolver uma oficina analisando discursos que circulam na sociedade, e a formação imaginária a eles relacionada. O objeto de análise será um corpus formado por dizeres racistas pronunciados por internautas em redes sociais, fazendo referência a dez pessoas famosas, conhecidas pela participação em programas de TV brasileiros ou pela atuação no futebol. Analisaremos esses dizeres, observando como eles refletem relações de poder, acentuam o preconceito racial no Brasil, e contribuem para a formação e proliferação de diversas imagens negativas. Após a discussão, os participantes da oficina serão convidados a esboçar um plano de aula, que reúna as imagens e os dizeres analisados, e que possa ser explorado no ensino de português para estrangeiros. Num trabalho anterior, observamos o interesse de estudantes de PLE por temas como raça, identidade e discriminação na América do Sul. Essa oficina, assim como o plano nela elaborado, poderá ser um ponto de partida para novas discussões, entre aqueles que queiram conhecer melhor as relações raciais e os discursos marcados pelo racismo no Brasil.


Smartphones nas aulas de PLE: Estratégias de motivação e autonomia por meio de novas tecnologias

Ana Paula Garcia

Mater Lakes Academy, EUA

Francisco Ednardo Barroso Duarte

Universidade Federal do Pará, Brasil

 

O uso da tecnologia tem sido largamente discutido no contexto de ensino desde o início dos anos 2000 dividindo opiniões sobre seus benefícios e suas implicações tanto nos processos pedagógicos quanto nos processos cognitivos de aprendizagem, além de representar grande desafio para profissionais da educação, uma vez que em tempos radicalmente tecnológicos e com a popularização em massa de gadgets como smartphones, tablets e laptops cada vez mais inteligentes e compactados, parece difícil aos professores ter ampla concorrência com tais dispositivos que, à revelia de nossa vontade, invadem nossas salas de aulas e fazem parte da cotidianidade de nossos alunos. Pensando nisso, este trabalho objetiva discutir o uso da tecnologia disponível por meio dos telefones inteligentes e multifuncionais, os chamados smartphones, nas aulas de PLE como recurso para despertar a motivação intrínseca e extrínseca dos alunos, além de desenvolver neles um potencial de autonomia no processo de aprendizagem de uma língua estrangeira. Assim, durante a oficina, pretendemos contextualizar os prós e contras da utilização das tecnologias na sala de aula, discutir o uso eficiente e criativo de algumas tecnologias modernas nas aulas de idiomas, compartilhar nossas experiências com atividades bem-sucedidas no ensino de PLE e por fim, elencamos um grupo de estratégias e atividades possíveis no processo de ensino e aprendizagem de modo a tornar as aulas de LE mais dinâmicas, autônomas e motivadoras.